segunda-feira, 1 de junho de 2009

"O Espírito da Verdade manifestará a minha Glória"(Jo 16,14)


No dia de Pentecostes, cinqüenta dias após o Domingo da Ressurreição de Jesus, o Espírito Santo foi derramado sobre os discípulos de Cristo que estavam reunidos no mesmo lugar. "De repente veio do céu um barulho como o sopro de um forte vendaval, e encheu a casa onde eles se encontravam" (At 2,2). Jesus no cenáculo "soprou sobre seus discípulos e lhes disse: ‘Recebei o Espírito Santo’" (Jo 20, 19-23). Este sopro de Cristo recorda o gesto de Deus que, na cria� �ão, "soprou sobre o homem, feito de pó do chão, um alento de vida, e tornou-se o homem um ser vivente" (Gn 2, 7). Com aquele gesto, Jesus vem dizer, portanto, que o Espírito Santo é o sopro divino que dá vida à nova criação, como deu vida à primeira criação. O Salmo responsorial sublinha este tema: "Enviai, Senhor, o vosso Espírito, e renovai a face da terra" (Sal 104,30).Proclamar que o Espírito Santo é criador significa dizer que sua esfera de ação não se restringe só à Igreja, mas se estende a toda a criação. Nenhum tempo, nenhum lugar estão privados de sua presença ativa. Ele atua na Bíblia e fora dela; atua antes de Cristo, no tempo de Cristo e depois de Cristo, ainda que nunca separadamente d’Ele. "Toda verdade, de onde quer que venha dita -- escreveu Santo Tomás de Aquino --, vem do Espírito Santo". Certo: a ação do Espírito de Cristo fora da Igreja não é a mesma que dentro da Igreja e nos Sacramentos. Lá Ele atua por poder, aqui por presença, em Pessoa. A Igreja, comunhão viva na fé apostólica, é o lugar privilegiado para conhecermos o Espírito Santo como terceira Pessoa da Santíssima Trindade, Pessoa que com o Pai e Filho é adorado e glorificado. O mais importante, a propósito do poder criador do Espírito Santo, não é compreendê-lo ou explicar suas implicações, mas experimentá-lo. E o que significa experimentar o Espírito como criador? Para descobrir isso, partimos do relato da criação. "No princípio Deus criou os céus e a terra. A terra era caos e escuridão acima do abismo, e um vento de Deus soprava sobre as águas" (Gn 1, 1-2). Deduz-se que o universo já existia no momento em que o Espírito intervém, mas ainda era informe e tenebroso, caos. É depois de sua ação que a obra criada assume contornos precisos; a luz se separa das trevas, a terra do mar, e tudo adquire uma forma definida. O Espírito Santo é, portanto, Aquele qu e permite passar -- a criação -- do caos ao cosmos, o que faz assim algo belo, ordenado, limpo (cosmos vem da mesma raiz que cosmético, e quer dizer belo!), realiza assim um "mundo", segundo o duplo significado dessa palavra. A ciência nos ensina hoje que este processo durou bilhões de anos, mas o que a Bíblia quer dizer-nos, com linguagem simples e imaginativa, é que a lenta evolução da vida e a ordem atual do mundo não ocorreu por acaso, obedecendo a impulsos cegos da matéria, mas por um projeto aplicado nele, desde o início pelo criador. A ação criadora de Deus não se limita ao instante inicial; Ele está sempre em ato de criar. Aplicado ao Espírito Santo, isso significa que Ele é sempre o que faz passar do caos ao cosmos, isto é, da desordem à ordem, da confusão à harmonia, da deformidade à beleza, da velhice à juventude. Isso em todos os níveis: no macrocosmos e no microcosmos, ou seja, no universo inteiro assim como em cada homem. Devemos crer que, apesar das aparências, o Espírito Santo atuando no mundo e o faz progredir. Quantos novos descobrimentos, não só no campo físico, mas também no moral e social! Um texto do Concílio Vaticano II diz que o Espírito Santo está atuando na evolução da ordem social do mundo (Gaudium et spes, 26). Não é só o mal que cresce, mas também o bem, com a diferença de que o mal se elimina, termina consigo mesmo, enquanto que o bem se acumula, permanece. Certamente ainda existe muito caos ao nosso redor: caos moral, político social; o mundo tem ainda muita necessidade do Espírito Santo; por isso não devemos cansar-nos de invocá-lo com as palavras do Salmo: "Enviai, Senhor, o vosso Espírito, e renovai a face da terra!"(Sl 104,30).

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