segunda-feira, 8 de junho de 2009

Santíssima Trindade, casa de relações entre iguais e diferentes!

A Igreja celebra hoje a sua fé apostólica na Trindade santa e perfeita, que é o Pai, o Filho e o Espírito Santo; três Pessoas divinas e distintas, diferentes na propriedade pessoal e iguais na divindade. Por que os cristãos acreditam na Trindade? Não é já bastante difícil crer que existe um Deus para ainda acrescentarmos o enigma de que Ele é «uno e trino»? Frequentemente aparecem aqueles que deixariam de lado a Trindade, também para poder assim dialogar melhor com judeus e muçulmanos, que professam a fé em um Deus rigidamente único.
A resposta é que os cristãos acreditam que Deus é trino porque crêem que Deus é amor! Se Deus é amor, deve amar alguém. Não existe um amor vazio, sem ser dirigido a ninguém. Interrogamo-nos: a quem Deus ama para ser definido como amor? Uma primeira resposta poderia ser: ama os homens! Mas os homens existem há alguns milhões de anos, não mais. Então, antes, a quem Deus amava? Não pode ter começado a ser amor desde certo momento, porque Deus não pode mudar. Segunda resposta: antes de amar os homens amava o cosmos, o universo. Mas o universo existe há alguns milhões de anos. Antes de então, a quem Deus amava para poder ser definido como amor? Não podemos dizer: amava a si mesmo, porque amar a si mesmo não é amor, mas egoísmo, ou, como dizem os psicólogos, narcisismo.
Está aqui a resposta da revelação cristã: Deus é amor em si mesmo, eternamente, porque desde sempre tem em si mesmo um Filho, o Verbo, a quem ama com amor infinito, amor esse que é o Espírito Santo. Em todo amor há sempre três realidades ou sujeitos: um que ama, um que é amado e o amor que os une. Ali onde Deus é concebido como poder absoluto, não existe necessidade de mais pessoas, porque o poder pode ser exercido por um só; mas não é assim se Deus é concebido como amor absoluto.
A teologia tem-se servido do termo natureza, ou substância, para indicar em Deus a unidade, e o termo Pessoa para indicar a distinção. Por isso, dizemos que nosso Deus é um Deus único em três Pessoas divinas. A doutrina cristã da Trindade não é um retrocesso, um pacto entre monoteísmo (doutrina que acredita num único Deus) e politeísmo (doutrina que acredita em vários deuses). Ao contrário: a teologia trinitária é um passo adiante que só o próprio Deus poderia fazer que a mente humana desse. Jamais o intelecto humano, por si só, chegaria a essa verdade de um só Deus em três Pessoas eternas.
A contemplação da Trindade pode ter um precioso impacto em nossa vida humana. É um mistério de relação. A felicidade e a infelicidade na terra dependem em grande medida, sabemos, da qualidade de nossas relações. A Trindade nos revela o segredo para ter relações belas. O que faz bela, livre e gratificante uma relação é o amor em suas diferentes expressões. Aqui se vê quão importante é contemplar a Deus antes de tudo como amor, não como poder: o amor doa, o poder domina. O que envenena uma relação é querer dominar o outro, possuí-lo, instrumentalizá-lo, em vez de acolhê-lo e entregar-se. Devo acrescentar uma observação importante. O Deus cristão é uno e trino! Esta é, portanto, desta forma, a solenidade da unidade de Deus, não só de sua trindade. Nós, cristãos, também cremos «em um só Deus», só que a unidade na qual cremos não é uma unidade de número, mas de natureza. Parece mais a unidade da família que a do indivíduo, mais a unidade da célula que a do átomo.
Eu gostaria de lembrar o grande e formidável ensinamento de vida que nos chega da Trindade. Este mistério é a máxima afirmação de que se pode ser iguais e diferentes: iguais em dignidade e diferentes em características. E não é isso de que temos a necessidade mais urgente de aprender, para viver adequadamente neste mundo? Ou seja, que se pode ser diferentes na cor da pele, cultura, sexo, etnia e religião, e, no entanto, gozar de igual dignidade, como pessoas humanas?
Este ensinamento encontra seu primeiro e mais natural campo de aplicação na família. A família deveria ser um reflexo terreno da Trindade. Está formada por pessoas diversas por sexo (homem e mulher) e por idade (pais e filhos), com todas as conseqüências que se derivam destas diversidades: diferentes sentimentos, diferentes atitudes e gostos. O êxito de uma família depende da medida com que esta diversidade saiba chegar a uma unidade superior: unidade de amor, de intenções, de colaboração. Tudo isso supõe o esforço de aceitar a diferença do outro, que é para nós o mais difícil e aquilo que só os mais maduros conseguem. Vemos também daqui como é errôneo considerar a Trindade como um mistério distante da vida concreta, que se deve deixar somente a cargo da especulação dos teólogos. Ao contrário: é um mistério próximo. O motivo é muito simples: fomos criados à imagem do Deus uno e trino, levamos sua marca e estamos chamados a realizar a mesma síntese sublime de unidade e diversidade. Somos convocados a viver a unidade na diversidade, a comunhão na pluralidade!
Padre Fabrício Dias Timóteo

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